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domingo, 10 de maio de 2015

DETENTAS FALAM SOBRE RELAÇÃO ENTRE MÃES E FILHOS NA CADEIA


No cárcere, dezenas de mulheres sofrem pela distância imposta pelo crime. 
Para as detentas da ala feminina do Complexo Penitenciário da Mata Escura, o Dia das Mães é época é de reflexões e saudades. A equipe doG1 esteve na unidade prisional e conversou com algumas delas sobre as relações familiares no ambiente da cadeia. 
De acordo com Luz Marina Ferreira Silva, diretora da ala feminina, de modo geral, as presas costumam ser "abandonadas" no cárcere. Menos de 50 recebem visitas regulares de parentes e amigos."As mulheres, sejam elas na condição de esposas, mães, irmãs, visitam os homens, mas não fazem o mesmo quando uma mulher da família está presa. Elas são desamparadas e nós tentamos dar esse amparo, na medida do possível", compara. A situação piora quando a presa é de outra cidade. Por causa da distância, de falta de condições financeiras, disponibilidade, muitas passam anos sem contato algum com a família. 
Entre as que fogem à regra está Ana Cristina Brito, monitora escolar. A filha dela, Marcela Conceição, de apenas 19 anos, está presa porroubo há seis meses e recebe visitas semanais da mãe. "Apesar da dor que sinto, venho mesmo assim. Fui eu quem a criei e eduquei. Tenho que continuar orientando, pois ainda é muito jovem. Esse é o meu papel de mãe", afirma. Marcela, calada e tímida, agradece o cuidado da mãe com um olhar de cumplicidade. 
A dona de casa Lenilda da Siva Vilas Boas também tem ido ao Complexo Penitenciário da Mata Escura duas vezes por semana visitar a filha, que está presa há um mês. "É um constrangimento grande, uma situação que nunca imaginei passar e que nenhuma mãe nesse mundo merece. Mas não posso abandonar minha filha, como muitas aqui estão abandonadas, ainda mais por saber que ela é uma boa pessoa", acredita.
A filha de Lenilda, Cíntia Kelly Vilas Boas está presa por tráfico de drogas e aguarda ansiosa pelas visitas da mãe, momento em que recebe mimos e carinho. "Ela sempre traz o que gosto de comer, como uma forma de me confortar. Lasanha, refrigerante, biscoitos, enfim, coisas que aqui dentro são um luxo", relata. Além de Lenilda, a irmã e o filho de apenas cinco anos de Cíntia Kelly também vão para a penitenciária a fim de vê-la. "É o dia de matar a saudade, renovar as forças. Quando eles vão embora, dá um aperto no coração. O que me alivia é saber que logo estaremos juntos", declara Cíntia. 
Presas - Dia das Mães (Foto: Valma Silva/ G1 BA)Cíntia Kelly acompanhada de familiares em dia de 
visita: "dia de matar a saudade, renovar as forças".
(Foto: Valma Silva/ G1 BA)
O filho de Cíntia está morando com a avó no momento. "Ele pergunta pela mãe o tempo todo, fica me chamando para orar para que volte logo para casa", conta Lenilda. Cíntia, por sua vez, se emociona ao falar da situação. "É desesperador para qualque mãe estar longe de um filho. Porém, fico tranquila, pois sei que minha mãe está sendo a mãe dele no momento, está cuidando bem. Ela está sendo uma grande mãe para mim, mais do que nunca", reconhece.
Na maioria dos casos, são as mães que visitam as filhas. Entretanto, há também inversão de papéis. A dona de casa Rosenilde dos Santos tem sofrido com a situação da mãe, Edinice dos Santos, presa por tráfico de drogas. "Como filha, tenho de apoiar a minha mãe de todas as formas para que ela se afaste do crime, pois já é a segunda vez que é presa. Fico muito triste de vê-la em um lugar como esse, envolvida com coisa que não presta", desabafa entre lágrimas.
Edinice garante que tem se esforçado para ser um bom exemplo para a família, especialmente para os netos. "Não quero que tenham a vida que tive. Quero que sejam pessoas de bem", afirma. Ela conta que um dos netos chegou a presenciar o momento em que a polícia a prendeu em casa. "Foi a maior vergonha da minha vida". 
Gestação e bebês
Presas - Dia das Mães (Foto: Valma Silva / G1 BA)Crianças podem ficar com as mães na cadeia até
seis meses e depois vão para uma creche.
(Foto: Valma Silva / G1 BA)
A diretora da unidade prisional feminina informa que algumas crianças, cujas mães estão presas, vivem em uma creche nos arredores do presídio, e também fazem visitas semanais às mulheres. "Sempre que possível, nós trazemos os filhos para a creche. É uma forma de reforçar os vínculos familiares, de conscientizá-las de que precisam se ressocializar para cuidar das crianças", explica.
Uma das detentas está tentando levar dois dos três filhos para a creche. Edna Silva Vasconcelos, presa por roubo, se sente angustiada por não ter notícias constantes das crianças, que estão vivendo com parentes. "Eu sempre cuidei dos meus filhos, só que agora não posso. Isso me preocupa. Estou arrependida do crime que cometi e de não ter pensado primeiro nos meus filhos. Agora estou longe deles", arrepende-se.
Atualmente, há duas gestantes encarceradas no complexo da Mata Escura. Segundo a diretora Luz Marina, elas têm acompanhamento especial ao longo da gravidez, com pré-natal e outros exames, além de ganhar enxoval. Os bebês ficam na cadeia até os seis meses de idade e depois vão para a creche. Atualmente, não há nenhum recém-nascido no local. "Eles tiram o clima de tensão da cadeia. Só que o cárcere não é ambiente para os bebês. No dia do desmame, é um momento de muita tristeza. Choro eu, choram as agentes, as presas, chora todo mundo", lamenta a diretora.
Uma das grávidas é Lidiane Passos dos Reis, presa pela quarta vez. Aos 25 anos, está aos seis meses da primeira gestação.

A jovem assegura estar tentando mudar de vida para ser uma boa mãe. "Deus me livre de ele saber tudo que já passei, vou morrer de vergonha". Lidiane já tem planos para quando sair da cadeia: conseguir um trabalho. "Quero educá-lo com dignidade. Não quero ser para ele o problema que fui para a minha família, e quero que me chame de mãe", sonha.
Além do emprego, ela pretende se reaproximar da família. "Sinto muita falta da minha família. Minha mãe é tudo para mim. É meu maior exemplo de vida. Lutou muito para educar sete filhos sozinha. Fui a única que não segui os conselhos dela e agora estou nessa situação", conta.
Lidiane relata que sempre recebeu visitas da mãe, porém, desde a última vez que foi presa, há três meses, ainda não a viu. "Sei que as coisas mudam, mas minha mãe não desistiria de me ver livre. Sei que ela liga para cá querendo notícias minhas. Ela é a única que ainda deposita esperança em mim. Mãe é mãe mesmo", reconhece. (Informações do G1).
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